domingo, novembro 26, 2006

Quem é o louco!

Meu amigo Éder, louco de Carteirinha, mandou esse texto pra gente. Exemplo bom de Auto Estorvo.

- Quem é o louco?
- Ele!
- Por quê?
- Porque dorme na rua, enche a cara e não faz nada da vida...Dizem que usa drogas, vive pedindo dinheiro e não se endireita...
- E nós?
- Nós somos normais, ué!
- Por quê?
- Ora bolas! Porque trabalhamos, não bebemos e não excedemos os limites da normalidade... Enfim, somos pessoas comuns, sabemos o que fazemos...
-Tem certeza que nós sabemos o que fazemos?
- Deixa disso! Fica com essas perguntas sem fundamento! Acho que você é que está ficando louco...
- Sim, é isto! Já notaste que nós é que somos os loucos?
- Deixa de brincadeira!
- Algum dia em sua vida você se sentiu muito cansado do trabalho, da monotonia, da falta de grana, com vontade de fugir de tudo, matar seu patrão, deixar sua sogra falando sozinha ou simplesmente extrapolar algum limite?
- Sim, várias vezes me senti assim... Quando o stress estava pesado, eu esperava chegar o final de semana, e ia pescar...
- E por que voltou na segunda feira, por que não ficou pescando?
- Porque não sou louco, sei das minhas responsabilidades...
- Agora entendo!
- O que você entende?
- Ser normal é ser louco o suficiente para suportar tudo sem fugir...

sábado, novembro 25, 2006

Auto Estorvo

Este blog aspira à honestidade. Ao contrário dos inúmeros títulos existentes no mercado editorial que visam amenizar a dor, o fracasso, o desastre da vida humana. Através de animadores e esperançosos títulos do tipo “Se eu posso, Tu Podes”, “Vencendo a obsessão”, “O caminho da felicidade”, “Como ficar rico acumulando cera de ouvido”, muitas pessoas buscam suavizar suas frustrações, suas privações de desejos ou necessidades.
Este espaço não tem pretensões de mudar a vida de ninguém, embora tenha como certa a condição deprimente e monótona da raça humana. Minha única ambição é poder rir da nossa complexidade. Observar através de um foco abrangente, distanciado, que permita analisar situações por inteiro. Gargalhar sobre o leite derramado.
Imagine, por exemplo, duas pessoas fazendo sexo. Agora tome vergonha na cara, deixe a tara um pouco de lado, pare de olhar pra bunda da moça e fixe seus olhos nas expressões que o casal faz – olhinhos virados, boca semi-aberta, cabelos desgrenhados. Das caretas do prazer, só não ri quem não tem senso de humor.
A humanidade tem o ridículo por princípio, e é deste ridículo que pretendo me divertir. Rir da desgraça própria e da desgraça alheia. Aqui, buscar a solução de problemas pessoais em títulos que auto denominam-se divã de leitores é, no mínimo, motivo de muito sarro. Este tipo de literatura, chamada de auto-ajuda, ignora a necessidade das pessoas terem suas próprias experiências. Se lhe interessa aprender como enfrentar as circunstâncias difíceis que sua pífia existência coloca em seu caminho, não busque a superação em um livro. Apenas viva.
Não digo aqui que os livros não nos ajudam. Boa literatura é, antes de ser útil, prazerosa - transporta-nos para mundos distintos, experiências alheias. Faz-nos pessoas melhores, tolerantes. A boa literatura não busca esclarecer, mas gera outras dúvidas, outras formas de sanar a curiosidade.
Mesmo que sua proficuidade seja indiscutível, não devemos buscar nos livros a solução de problemas emocionais, familiares, financeiros, espirituais, carnais, conjugais, amorosos. A boa literatura abrange todas as diversas crises humanas, mas é transcendente a isso tudo. Ela não trará a pessoa amada em sete dias e muito menos recheará seu bolso de dinheiro – a menos que você seja um Paulo Coelho. Mas estamos aqui falando de boa literatura. Portanto, como disse no início, este espaço busca ser honesto com o leitor. Aqui você não encontrará solução, e sim o embaraço, a dificuldade, o obstáculo. Aqui você será motivo de piada, e poderá rir também da nossa cara. Um método de aprimoramento pessoal em que o indivíduo pretende buscar, sem ajuda de ninguém, empecilhos para todos os seus problemas. Sejam bem vindos ao Auto-Estorvo.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Flatus: realização pessoal

O primeiro post não poderia ser básico. Ainda mais sendo o auto-estorvo do jeito que é. Então, para inaugurar minha participação nesse blog, me inspiro numa crônica da Maria Falcão, cujo codinome é "Drica, a hipocondríaca". A crônica se chama "Gases que me habitam". Bom. Diferente dela, minha vida gasosa na retaguarda não e tão agitada assim. Aliás, nem posso dizer que tenho flatus, posto que quando eles saem, sequer se manifestam.

Posso incluir um peido bem sonoro e comprido na lista das cinco coisas que eu ainda quero realizar antes de partir dessa pra melhor (ou não). Por diversas vezes, senti um apertão, uma espécie de pressão e imediatamente meu coração se encheu de esperança e meus ouvidos de atenção para ver se, enfim, haveria uma manifestação sonora. Puffff... Uma brisa. Um bafo colon-retal. Ah, coitada! Acho que foi por isso que meu aparelho auditivo se irritou e resolveu fazer uma espécie de greve branca me deixando levemente surda.

E se eu fosse acreditar 100% em herança genética, poderia achar que sou adotada, já que nem um de meus progenitores tem esse tipo de frustração. Quem conhece sabe.

Mas ser assim, silenciosa, não é de todo ruim não. Vejam só: ônibus lotado, gente empurrando pra lá e pra cá, garotos de bigode novo e uniforme esbarrando nas costas dos passageiros com suas enormes mochilas abarrotadas de mangás; senhores sem noção com pastas na mão que são o terror das canelas desavisadas; tias ancudas que não conseguem nem se quiserem, não encostar "delicadamente" nas ancas vizinhas; cotovelos; vidros fechados. É nessa hora que entramos em ação. Eu e ele, lá embaixo. Em poucos segundos, todos os esbarradores ao meu redor se espremem desesperados pra outro lugar deixando livre o espaço ao meu redor. Tal prática me ensinou ainda a não ficar vermelha e nem com a mão amarela, o que me permite até me indignar com a situação "Nossa, que cheiro!", concordando com o coro ao lado. Pronto: totalmente despercebida e desesbarrada. É o conhecido flatus do tipo ninja.

Pena que só tenha esse motivo para me orgulhar. Nunca pude participar de concurso entre primos. Nem sei se puxei pro meu pai ou minha mãe. A única coisa possível de se fazer é coordenar o exato momento em que o pum sair com uma imitação do barulho feita com a boca. Claro, sem que ninguém perceba e descubra minha farsa.

Não há batatas, feijão ou ovos que me auxiliem. Eles apenas potencializam meu poder ninja. Além do mais, o meu forte mesmo é na parte de cima. Sonho estranho esse meu, né? O pior é que é sonho mesmo, porque nem dormindo eu consigo flatular para o deleite dos meus ouvidos grevistas.