Os jogos de sedução, nas relações entre iguais e diferentes sexos, não passam de blefe. Um blefe no seu sentido mais enigmático. Quando se é seduzido, está incluso no pacote um convite ao desvendar. Seduzir é convidar o atraído como quem diz: “Tente descobrir meus segredos!”.
De maneira mais direta, isso seria dito, talvez com um “Tira minha roupa: Agora!”.
Blefar é nada mais do que iludir no jogo de baralho, simulando ter boas cartas. Blefar é esconder uma situação precária com falsas aparências. Blefamos nos jogos de sedução: usando roupas, escondendo a parte do corpo que interessaria ao outro, deixando à mostra apenas o caminho a percorrer - da entrada ao prato principal.
Muito psicólogo por aí diz que a roupa é de importância primordial, causadora da primeira faísca que acende a bomba dos desejos. O Antropólogo Bernard Shaw nos mostra, em seus estudos, que em algumas tribos, as mulheres fazem da roupa um acessório indispensável para os rituais de saciedade e fecundação.
Sendo assim, eu pergunto: e nós, que de maneira prepotente julgamo-nos civilizados, em que diferimos dos homens “selvagens”? Absolutamente em nada.
Nas tribos da Europa, nos rituais bárbaros de São Paulo Faschion Week (SPFW) ou nas cavernas de Nova York, as roupas continuam sendo usadas de maneira a fazer da sedução um blefe. Isso porque o tabu da nudez, involuntariamente, ainda vigora seu controle nos anseios nas áreas pudicas da sociedade. A polêmica causada com as calcinhas que não tampam nem o necessário, mostradas no SPFW, é um exemplo da soberania do pudor. Mas o fato ocorrido demonstra também que a humanidade se cansou das roupas. Cansou-se de ter que combinar peças de tecido com o único intuito de agradar aos olhos alheios.
Estamos todos voltando às origens. Nascemos nus, nossos antepassados viviam nus, queremos, e por que não, viver totalmente nus. A mulher quer se livrar da sina imposta de estar impecável e o homem quer se livrar da corda, chamada gravata, que o sufoca diariamente. Pensem na gravata. O ser humano é o único ser que se expõe ao ridículo de usar um pedaço de pano pendurado ao pescoço, parecendo uma língua ofegante. O único prazer em usar gravata está no momento em que se afrouxa seu nó, depois de um cansativo dia de labuta.
O tabu da nudez um dia se tornará o tabu da roupa. Isso ocorrerá através de um processo de mudanças nos elementos da moral embutida na consciência da sociedade. Tardará, e muito, para que chegue o dia do “strip-tease global”. Coisa que nossos índios ofereciam logo no primeiro contato. Mas a humanidade ainda vai despir-se das convenções. Chegará o dia em que a mãe, vendo a filha sair de casa pra uma noitada em uma destas badaladas boates, dirá:
- Tire esta roupa imediatamente antes de sair. Que menina mais despudorada. Onde já se viu sair assim, com uma saia tão longa. Sentes frio? Coloque aquele seu biquínizinho. Seja recatada minha filha.
Nas casas de strip-tease, o espetáculo será feito às avessas. Os homens se empolgarão cada vez mais, na proporção em que a dançarina vai se vestindo. Cada peça de roupa colocada é uma excitação geral. A gritaria muda de tom:
- Coloca, coloca, coloca!
As revistas que hoje tratam de moda, serão consideradas eróticas ou pornográficas. A Playboy se tornará o que hoje é a Revista Nova e vice-versa.
O conceito bíblico de Adão e Eva, que após comerem do fruto proibido, sentiram vergonha por estarem nus diante do criador, será reelaborado. A vergonha se fará existente por causa do moleton usado por Adão.
A Moda será uma atividade marginalizada, como a prostituição. Roupa é coisa de gente amoral. Andar com uma peça de vestuário na rua, como um casaco, será considerado um desacato. Seria como se hoje, saíssemos por aí segurando uma lingerie nas mãos.
O planeta será o mundo dos pelados. Nas festas adolescentes, oferecidas nas raras oportunidades em que os pais de um dos garotos viaja, a suruba será iniciada ao grito de “é isso aí, todo mundo vestido!”.
A nova moral será decretada, na mudança dos costumes e do deslocamento total do tabu que hoje é vigente em torno da nudez. Se Nelson Rodrigues ainda vivesse, escreveria algo intitulado como Toda Vestimenta será Castigada...