- Sabe que eu nasci neste hospital?
- Como?
- Eu, nasci neste hospital, esse que passou agora, às três da tarde de uma terça-feira. Faz catorze anos.
- Ah...
O ônibus vira a esquina.
- Minha mãe teve dezenove horas de dor de parto antes de eu nascer!
- Ah, é? Ah... - e virou para a janela.
- Mas ela disse que valeu a pena porque sou o filho que ela pediu a Deus.
- Que bom - sorriu amarelado e tornou a virar o rosto para a janela.
- Foi por isso que ela me deu este nome: Nainitinu Jesus!
- Como é? - dessa vez se espantou - Naini o quê?
- Nainitinu Jesus, ela disse que Nainiti é dezenove em inglês. Jesus é por causa do anestesista que tinha esse nome.
- Ah...
- Sabe, eu gosto desse nome. Nunca conheci ninguém com o nome igual. Na minha sala sempre teve João, Rafael, Vinícius, Bruno, Andréia, sempre tinha uns dois ou três de cada. Sempre.
- Pois é...
- Já meu irmão tem nome besta, mas não vou falar porque não sei o seu e vai que é o mesmo!
- Tudo bem.
- Olha lá! Nossa, eu adoro o sorvete daquele lugar, é cremoso, não tem pedaço de gelo no meio e nem gosto de suco em pó! Tem vários sabores. O que eu gosto mais é o de uva. Eles também tem aqueles doces e coberturas pra colocar por cima. Toda vez que vou lá como quase meio quilo. Você gosta de sorvete?
- Sim, de vez em quando - Olhou por um instante para cima. Uma respirada profunda.
- Eu adoro. Se pudesse comeria uns oito litros por dia. Oito não, dez de uma vez, que é pra arredondar. Sempre arredondo pra facilitar as coisas. Só que engordaria muito, ficaria como meu vizinho, ele é enorme. Sabe quantos quilos ele tem?
- Nem imagino...
- Ele pesa 162 quilos. Pelo menos foi o que ele me disse. Eu sempre me lembro porque é o número da casa da minha avó. Ela mora em uma cidade do interior de São Paulo que começa com a letra M, mas não me lembro do nome. É Ma... Ma... alguma coisa...
- Você sempre é assim tão... comunicativo?
- Ah, sim, claro. Esse ônibus demora muito, vou sempre conversando porque o tempo passa mais rápido. Você não?
- Não.
- Ah...
- Já vou descendo. Meu ponto é o próximo. Com licença. Até.
- Até mais! Da próxima, conversamos mais então. Você pega sempre essa linha?
- Chegou! Tchau.
- Tchau! Até mais moço! Tudo de bom pra você!
Pulou rapidamente para o banco ao lado para dar tempo de dar tchauzinho pela janela.
5 comentários:
Se tem uma coisa que eu não suporto é gente desconhecida que desembesta a falar besteira num ônibus ou metrô. Eu até já mandei uma tiazinha calar a boca no metrô por ela não parar de falar no filho "devogado" enquanto eu tentava, silenciosamente, ler durante o trajeto. Mas há pessoas que tem um papo interessante e acaba fazendo com que a viagem pareça mais rápida.
Nossa senhora, eu estaria espumando de raiva desse cara. Ninguém aguenta um pentelho desse!!! Espero que a história não seja real. Beijos!
Hehehe, não é real não, mas o pior é que existe gente assim!
beijos proceis!
é realmente esse pentelho é chato pra #@$%$#@ né, deu até aflição hehehehe
ficou muito bom minha linda
hehe, thanks!!
beijos!
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