quarta-feira, dezembro 20, 2006

Conversa fiada

- Sabe que eu nasci neste hospital?

- Como?

- Eu, nasci neste hospital, esse que passou agora, às três da tarde de uma terça-feira. Faz catorze anos.

- Ah...

O ônibus vira a esquina.

- Minha mãe teve dezenove horas de dor de parto antes de eu nascer!

- Ah, é? Ah... - e virou para a janela.

- Mas ela disse que valeu a pena porque sou o filho que ela pediu a Deus.

- Que bom - sorriu amarelado e tornou a virar o rosto para a janela.

- Foi por isso que ela me deu este nome: Nainitinu Jesus!

- Como é? - dessa vez se espantou - Naini o quê?

- Nainitinu Jesus, ela disse que Nainiti é dezenove em inglês. Jesus é por causa do anestesista que tinha esse nome.

- Ah...

- Sabe, eu gosto desse nome. Nunca conheci ninguém com o nome igual. Na minha sala sempre teve João, Rafael, Vinícius, Bruno, Andréia, sempre tinha uns dois ou três de cada. Sempre.

- Pois é...

- Já meu irmão tem nome besta, mas não vou falar porque não sei o seu e vai que é o mesmo!

- Tudo bem.

- Olha lá! Nossa, eu adoro o sorvete daquele lugar, é cremoso, não tem pedaço de gelo no meio e nem gosto de suco em pó! Tem vários sabores. O que eu gosto mais é o de uva. Eles também tem aqueles doces e coberturas pra colocar por cima. Toda vez que vou lá como quase meio quilo. Você gosta de sorvete?

- Sim, de vez em quando - Olhou por um instante para cima. Uma respirada profunda.

- Eu adoro. Se pudesse comeria uns oito litros por dia. Oito não, dez de uma vez, que é pra arredondar. Sempre arredondo pra facilitar as coisas. Só que engordaria muito, ficaria como meu vizinho, ele é enorme. Sabe quantos quilos ele tem?

- Nem imagino...

- Ele pesa 162 quilos. Pelo menos foi o que ele me disse. Eu sempre me lembro porque é o número da casa da minha avó. Ela mora em uma cidade do interior de São Paulo que começa com a letra M, mas não me lembro do nome. É Ma... Ma... alguma coisa...

- Você sempre é assim tão... comunicativo?

- Ah, sim, claro. Esse ônibus demora muito, vou sempre conversando porque o tempo passa mais rápido. Você não?

- Não.

- Ah...

- Já vou descendo. Meu ponto é o próximo. Com licença. Até.

- Até mais! Da próxima, conversamos mais então. Você pega sempre essa linha?

- Chegou! Tchau.

- Tchau! Até mais moço! Tudo de bom pra você!

Pulou rapidamente para o banco ao lado para dar tempo de dar tchauzinho pela janela.

5 comentários:

Anônimo disse...

Se tem uma coisa que eu não suporto é gente desconhecida que desembesta a falar besteira num ônibus ou metrô. Eu até já mandei uma tiazinha calar a boca no metrô por ela não parar de falar no filho "devogado" enquanto eu tentava, silenciosamente, ler durante o trajeto. Mas há pessoas que tem um papo interessante e acaba fazendo com que a viagem pareça mais rápida.

Cecília França disse...

Nossa senhora, eu estaria espumando de raiva desse cara. Ninguém aguenta um pentelho desse!!! Espero que a história não seja real. Beijos!

Luana disse...

Hehehe, não é real não, mas o pior é que existe gente assim!
beijos proceis!

Anônimo disse...

é realmente esse pentelho é chato pra #@$%$#@ né, deu até aflição hehehehe
ficou muito bom minha linda

Luana disse...

hehe, thanks!!
beijos!