sábado, dezembro 23, 2006

Regininha e um sonho de ano novo


- Regininha, o que você faz por aqui ?
- Feliz ano novo.
- Agora eu estou com sono. O ano novo é daqui a oito dias. Esse ano eu ainda quero dormir.
- Tudo bem. É assim que você me trata ?
- Você me esnobou o ano inteiro, me deixou escrevendo sozinho, e ainda me deixou todo animadinho.
- Mas...
- Quantos banhos de água fria tive que tomar. Quantas vezes fiquei aqui, acalmando o Doroteu (desculpe gente, mas esse é o nome com que me relaciono intimamente com o menino aqui de baixo) porque você tinha me deixado na mão, literalmente.
- Esse ano eu quero você Tiago. Inteirinho pra mim. Você, o Doroteu e todas suas palavras, suas vírgulas, suas exclamações e interrogações, suas reticências...
- Estou colocando um ponto final nessa história.
- Ponto final eu não quero. Te quero para o sempre. Quero seus parágrafos, suas frases, seus erros ortográficos...
- Então tira este vestidinho que eu quero teu assento.
- Eu também quero teu acento. O agudo, apontando pra cima.
- Eu quero esse que você usa pra sentar mesmo. Regininha foi tirando o vestido, deixando deslizar pelo corpo até cair no chão, aos seus pés. No exato momento em que abria o fecho do sutiã, caio da cama e acordo, babando. Tudo não passou de um sonho de véspera de ano novo. Em 2007 tudo será diferente.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Nada como um dia após o outro


Cinco e meia da manhã. O despertador soa como os gritos de desespero dos moradores de Pompéia, quando foram soterrados pela lava do Vesúvio. Ela abre os olhos que logo ficam marejados, frutos de sono e sofrimento. Ele ainda dorme, mas já é hora de levantar. Ela o balança carinhosamente, até que desperte, e volta a dormir. Ele lhe beija a testa, diz-lhe para continuar deitada, pois pode se arranjar sozinho. Sai do quarto de cuecas, com as calças e a camiseta penduradas no ombro. Veste-se ali mesmo no outro cômodo da casa, o único, além do quarto onde dorme o casal e os dois meninos. Bebe um café requentado e busca dentro da geladeira algo para comer. O refrigerador elétrico apenas existe em seus sonhos. O que ele abre à procura de comida é uma caixa velha de isopor cheia d'água, que ontem fora o gelo que conservou, por algumas horas, a pouca comida que dividiu com mulher e filhos. Passavam fome. Comiam quando podiam, e muito pouco podiam. Os meninos ainda tinham o que comer na escola. Menos mal. Ele e a mulher raramente se alimentavam, pois as crianças recebiam preferência. Era sensata sua distribuição. Com fome, saiu para o trabalho. Sua roupa de serviço era uma calça rota, que ganhara de um antigo patrão há mais de ano. A camiseta estampava a foto de um candidato à prefeitura da cidade, seguido do seu nome e número. O trabalho consistia em ficar numa esquina na área central, empunhando, de sol a sol, uma bandeira com a mesma estampa da camiseta. Sua esperança era do patrão ir ao segundo turno. Não que ele fosse um homem politizado, preocupado com a escolha do representante municipal. O que lhe ocorria era que seu emprego temporário duraria um pouco mais de tempo, caso houvesse um próximo turno de decisão eleitoral. Garantiria, assim, um tempo maior de sobrevivência para a mulher e os meninos. Debaixo de um sol de rachar concreto, ele cumpre seu papel no decorrer da campanha eleitoral. O salário é de miséria, mas garante um pãozinho pra cada um na mesa do café. Ou na falta da mesa, sendo esta, feita de ripas pregadas numa tábua velha. Dia de eleição. Ele acorda mais cedo do que de costume para poder votar, pois logo tem de estar na mesma esquina, com a mesma camiseta e a mesma bandeira. Com o mesmo cansaço e o mesmo sofrimento, o mesmo suor e o mesmo calor. Sua vida é a mesma. Mudam os governos, mas sua vida não muda. Vive na mesmice.
Na entrada do seu colégio eleitoral, Ele reconhece o rosto que vê todos os dias, estampado na bandeira, cumprimentando e abraçando aqueles pobres miseráveis. Aproxima-se do político. Precisa ter com o patrão, precisa saber se aquilo que ouviu falar era mesmo verdade. Não conseguiu aproximação, pois os seguranças apanharam-no e o levaram para uma pequena sala dentro do colégio:
- O que você queria com o doutor, rapaz? - Perguntou o segurança negro, de óculos escuros e bigodinho ralo.
- Desculpa seu moço. Não sabia que era proibido falar com o patrão.
- Você trabalha pra ele? - Questionou o segurança mais mulato, de terno preto e camisa branca, impecável.
- É. Eu fico o dia inteirinho, debaixo de um sol fervendo a moleira, segurando uma bandeira com a cara do homem. Deve de ser ele que me paga aquela mixaria.
- Mas o que você queria lhe dizer? - Tornou a perguntar o negrão, com voz forte.
- Queria saber se era verdade o que me disseram ontem. Que ele ia dar um dinheirinho a mais pra quem escrevesse os números da bandeira naquela maquininha do governo. Se for verdade eu aceito. Meus meninos estão magrinhos demais.
Depois de confirmar com a cabeça, sinalizando um sim, o mulato se surpreendeu com a audácia daquele pobre desgraçado:
- Então vou lá falar pra ele me pagar que eu faço o serviço. Não sei pra que é que ele quer tanto aqueles números na maquininha. Não entendo mesmo dessas modernidades de hoje.
- Vai lá falar com o patrão? Uma ova! Toma esse dinheiro. Coloca os "números na maquininha" e vai embora. Mas não chegue nem perto do Doutor. Anda! Some daqui!
Ele saiu, votou sem mesmo saber o que estava fazendo. Apenas sorria, pois iria ter uma digna refeição. A mulher e os filhos teriam orgulho. Iriam sorrir. Mal sabia ele que havia vendido o único direito que ainda lhe restara. Muitos outros, como Ele, trocaram o voto por dinheiro, comida, sapatos novos. O candidato ganhou a eleição logo no primeiro turno e ele já não tinha mais emprego. Dois meses depois da posse do novo prefeito, o terreno onde ficava seu barraco, e o de muitos outros miseráveis, fora doado para uma grande indústria americana. Depois de muitas manifestações da população, lutando pelos seus casebres, a polícia invadiu o local, a mando do prefeito, e colocou tudo no chão. Não sobrou barraco em pé. Muitas pessoas morreram no confronto com a polícia e ele via tudo acontecer. Mas não sentia revolta nem tristeza. Viu um dos seus meninos levar um tiro e falecer, e não lhe caíra uma lágrima. Não sentia nada além da fome. Mais à noite, deitado na calçada com a esposa e o filho que restara, sentia frio, além do roncar do estômago. Olhou para o seu teto de estrelas e balbuciou:
- Nada como. Um dia após o outro...

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Conversa fiada

- Sabe que eu nasci neste hospital?

- Como?

- Eu, nasci neste hospital, esse que passou agora, às três da tarde de uma terça-feira. Faz catorze anos.

- Ah...

O ônibus vira a esquina.

- Minha mãe teve dezenove horas de dor de parto antes de eu nascer!

- Ah, é? Ah... - e virou para a janela.

- Mas ela disse que valeu a pena porque sou o filho que ela pediu a Deus.

- Que bom - sorriu amarelado e tornou a virar o rosto para a janela.

- Foi por isso que ela me deu este nome: Nainitinu Jesus!

- Como é? - dessa vez se espantou - Naini o quê?

- Nainitinu Jesus, ela disse que Nainiti é dezenove em inglês. Jesus é por causa do anestesista que tinha esse nome.

- Ah...

- Sabe, eu gosto desse nome. Nunca conheci ninguém com o nome igual. Na minha sala sempre teve João, Rafael, Vinícius, Bruno, Andréia, sempre tinha uns dois ou três de cada. Sempre.

- Pois é...

- Já meu irmão tem nome besta, mas não vou falar porque não sei o seu e vai que é o mesmo!

- Tudo bem.

- Olha lá! Nossa, eu adoro o sorvete daquele lugar, é cremoso, não tem pedaço de gelo no meio e nem gosto de suco em pó! Tem vários sabores. O que eu gosto mais é o de uva. Eles também tem aqueles doces e coberturas pra colocar por cima. Toda vez que vou lá como quase meio quilo. Você gosta de sorvete?

- Sim, de vez em quando - Olhou por um instante para cima. Uma respirada profunda.

- Eu adoro. Se pudesse comeria uns oito litros por dia. Oito não, dez de uma vez, que é pra arredondar. Sempre arredondo pra facilitar as coisas. Só que engordaria muito, ficaria como meu vizinho, ele é enorme. Sabe quantos quilos ele tem?

- Nem imagino...

- Ele pesa 162 quilos. Pelo menos foi o que ele me disse. Eu sempre me lembro porque é o número da casa da minha avó. Ela mora em uma cidade do interior de São Paulo que começa com a letra M, mas não me lembro do nome. É Ma... Ma... alguma coisa...

- Você sempre é assim tão... comunicativo?

- Ah, sim, claro. Esse ônibus demora muito, vou sempre conversando porque o tempo passa mais rápido. Você não?

- Não.

- Ah...

- Já vou descendo. Meu ponto é o próximo. Com licença. Até.

- Até mais! Da próxima, conversamos mais então. Você pega sempre essa linha?

- Chegou! Tchau.

- Tchau! Até mais moço! Tudo de bom pra você!

Pulou rapidamente para o banco ao lado para dar tempo de dar tchauzinho pela janela.

sábado, dezembro 16, 2006

A Regininha


O primeiro blog que criei foi o extinto Escolhido Por Musa Clio. Na época eu acabara de entrar na faculdade de História, por isso esse nome pretencioso. Idéia da Elza - professora de História Medieval - uma senhora culta e simpática. Junto com o blog, morreu uma personagem - a Musa Regininha. Não fazia sentido mantê-la pastando sem ruminar. Assim como Clio (musa da história), Tália (comédia), Erato (poesia amorosa), Euterpe (música), Polímnia (poesia lírica), Calíope (epopéia e eloqüência), Terpsícore (dança e canto), Urânia (astronomia), Melpômene (tragédia), Regininha também é uma Musa. Mas não como as filhas de Zeus. As nove musas nasceram após um pedido dos deuses do Olimpo para que o pai de Hércules criasse divindades que pudessem celebrar a vitória na guerra contra os Titãs (a banda de Tony Belloto nada tem a ver com isso). Depois de nove noites comendo Mnemósine (memória), Zeus teve suas nove moças e descansou. Todaselas eram desprovidas de tristeza. Porém, essas são da equipe da antiguidade. Ajudaram a Homero, Heráclito, Hesíodo e muitos outros que até hoje se conservam em reminiscência (Zeus deve se arder de ciúmes). Regininha é a divindade inspiradora da Modernidade, Conhecida por ser a Musa dos Blogueiros. Com seus cabelos vermelhos, piercing nos mamilos dos abundantes seios, sempre com uma blusinha decotada, deixando à mostra o umbigo que também ostenta uma jóia prateada, com sua cinturinha de pilão dando início à bela forma arredondada dos quadris, ela encanta todo e aquele que se propõe a publicar seus textos na virtualidade. Ela sempre me aparecia quando eu tinha alguma dificuldade na labuta diária da escrita. Ditava-me textos incríveis, que eu nunca publicava. Não por ética literária, pelo texto não ser meu. O problema acontecia quando ela corporizava-se ao meu lado. A primeira aparição, a gente nunca esquece:
- Escreve aí Tiago. È uma comédia ótima sobre porcos que viabilizavam o comércio de lavagem transgênica.
Depois de recuperar a visão que se esvaíra pelas luzes de seu espectro, perguntei quem ela era e o que queria.
- Desculpe pelas luzes, achei triunfante. Sou Regininha, sua musa inspiradora daqui pra frente. - Musa inspiradora? Como assim?
- Você não estuda história, cacete? Clio, Euterpe, Calíope...
- Não havia nenhuma Regininha entre elas.
- Claro, meu bem. Aquelas eram da antiguidade. Olha bem pra mim.
- Até agora não tirei os olhos - um indício de saliva escorria no canto esquerdo da minha boca. - Acha que eu teria um nome do tipo Terpsícore. Isso é broxante, cara. Sou Regininha. E não se alongue. Escreve logo o que te digo, pois tenho outros bloggeiros pra visitar.
- Não vai não, senta aqui ó.
- Tira a mão da minha cintura, seu safado. Não vou sentar em lugar nenhum. Que descabimento.
- Descabida é essa tua idéia de vir aqui me provocar com essa blusinha transparente. Dá até pra notar suas argolinhas nos mamilos.
Regininha me deu um tapa na cara, me chamou de tarado e sumiu brava, parecendo uma cascavel dentro de uma lata quente. Porém, sei que mais dia, menos dia, ela acaba voltando. Ela é uma personagem, eu a criei. Matei-a por uns tempos, mas, com saudades, resolvi ressuscitá-la. Teremos, aos sábados, suas aparições e meus assédios aqui no Auto Estorvo. Tive que explicá-la apenas para ter o deleite de historiar suas manifestações para os que não acompanhavam o Escolhido por Musa Clio. Aos que conheciam a personagem, apenas saibam de uma coisa - Regininha voltou...

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Faz-me rir (de tanto chorar)

Somos um país de sorte. E o motivo maior de nossa boa ventura provavelmente é a habilidade dos nossos deputados de nos bem representarem. Idôneos, nossos políticos fazem do poder um mero instrumento de democratização da renda, promovem justiça social a qualquer custo. Afinal, não importa a maneira pela qual se satisfaça um determinado fim. O que importa é que seja feito.

Temos a fortuna de bons deputados votarem a favor de nosso bem estar, do nosso simples direito à dignidade. Um bom exemplo disso é a atitude de aumentarem seus próprios salários em 91%, ou seja, de R$12.847, eles passarão a receber R$24.500. É um modelo a ser seguido, de combate ao desvio de dinheiro público – uma postura ética que evita a corrupção. A partir de agora o dinheiro público não será mais desviado para o bolso dos deputados e senadores – será enviado para suas contas bancarias, mensalmente, dentro da legalidade, sem o constrangimento de haver caixa dois.

É difícil relacionar a realidade histórica da política nacional com o argumento de que uma remuneração maior para os parlamentares os torne imunes à corrupção. Em apenas dez anos, o salário dos congressistas passou de R$4.088 em 1995 para quase R$13.000 em 2005. E só para citar alguns poucos dos inúmeros casos de mamata pública, em 1997 deputados venderam seus votos a favor da emenda da reeleição pela bagatela de R$200 mil; em 2005, “Bob Jeff” denuncia o esquema do mensalão e é cassado junto com o Zé Dirceu. Pena mesmo é que a impunidade foi comemorada em Brasília com Ângela Guadagnin dançando no túmulo da justiça.

Mas temos, como eleitores acomodados, parte de culpa nisso tudo. Ficamos inertes diante dos acontecimentos na mesma proporção em que os nobres congressistas ficam paralisados diante de trabalho. Poucos são os que se mobilizam e cobram explicações do político votado nas últimas eleições. Aliás, em quem mesmo é que votamos nas ultimas eleições? O povo esquece, reclama durante dois dias das manchetes nos jornais, e acaba sendo esquecido – lembrado apenas durante algum ano em que um coitado de um deputado precisa se reeleger.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Só Mais Dez Minutos


- Primmmm. Primmmm. Primmmm.

O despertador berra aos meus ouvidos exatamente as 06:30 da manhã, pedindo insistentemente que eu levante e me apronte para mais um dia de trabalho. Abro os olhos, limpo a baba que escorre do canto da boca e calculo, ainda sonolento, que mais algum tempinho de sono não me trará problemas de atraso. Programo o aparelho para ralhar comigo dentro de dez minutos:

Estou na arquibancada de um estádio lotado. Em campo, o XV de Jaú empata com o Goioerê em um emocionante 0x0. Para o apito final, restam apenas 3 minutos. Gilsão, atacante do Gigante de Piquiri, avança a grande área, dribla o goleiro do XV, chuta cruzado para desvario da torcida paranaense. O árbitro aponta o centro de campo, dando início às festividades dos vencedores da Série W do Campeonato Brasileiro. O futebol nacional anda tão manco que nem em sonho eu imagino um clássico decente.

Decente mesmo seria eu chegar ao trabalho hoje e ter um aumento de salário. Pensar no ordenado me trouxe a lembrança de que tenho que comprar ração para os gatos. Por causa deles acabei dormindo tarde demais. Eles resolveram fugir, cavando o chão do quarto após quebrarem o concreto com uma marreta. Saíram pelos apartamentos da vizinhança, libertando outros gatos, seqüestrando e torturando os cães. Um barulho infernal. Uma balbúrdia insuportável, parecida com a da igreja em frente ao prédio. Toda noite, aquela gritaria pedindo bênçãos. Jesus promovendo a cura, e sem anestesia. A liberdade religiosa deveria ser seriamente restringida. Ao menos, poderia ser exercida longe dos meus ouvidos.

Já que os gatos fugiram, talvez eu comece a criar ornitorrincos. Serei o primeiro a domesticar mamíferos monotremados. O ovo do ornitorrinco, frito ou cozido, deve ser uma iguaria. Pensarei nisso mais tarde, pois, além de não ter espaço suficiente para um aquário, não tenho a menor idéia do que estes bichinhos comem. Melhor esquecer de ter um bicho de estimação e cultivar alguma leguminosa. Lentilhas, por exemplo.

Quando será que está a cotação do quilo da lentilha? Deve existir alguma associação de plantadores de lentilha onde eu possa me informar. Segundo o Gênesis,
Esaú cedeu a Jacó seu direito de primogênito em troca de um prato de lentilhas. Devia ser, naquele tempo, um negócio muito vantajoso. Ou Esaú devia estar numa fome do cão. Penso que os baderneiros aí da frente nem façam idéia disso. Talvez o formato achatado dessa vagem, parecendo moedinhas, seja o motivo de muitos na crença de que o alimento traga sorte financeira. Daí o hábito das lentilhas no ano novo.

- Primmmm. Primmmm. Primmmm.

O despertador berra novamente, me avisando que são 06:40 da matina, hora de deixar de divagações absurdas e me preparar para mais um dia de trabalho. Levanto, tomo um café requentado e vejo que os gatos ronronam no sofá. Do jantar de ontem, numa panela sobre o fogão, algumas lentilhas. Quem sabe eu tenha um bom aumento no capim que me pagam mensalmente.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Perguntar Não Ofende



- Quantas bolas existem no saco do bom velhinho?

- O que o velhinho tira do saco de presente para as renas no final do expediente?

São questões natalinas que me perturbam desde menino...

O Natal



O Natal tem seus sinais, sim, ele tem. Sabemos quando esta data mágica está próxima quando...

- Nas propagandas de móveis e eletrodoméscicos que passam na TV, os vendedores têm gorros de papai noel na cabeça;

- As lojas piscam durante a noite;

- Tropeçamos em árvores de natal estranhas com melecas brancas grudadas nos galhos;

- Os prazos para pagamento de crediário são para "só depois do carnaval";

- Seu parente de longe liga avisando que vem com a família, o que inclui aqueles priminhos pentelhos;

- Não encontramos mais cartões de "feliz aniversário" ou de "te amo meu amor" nas pepelarias;

- Clones do papai noel se espalham contaminando todos os lugares;

- Mas principalmente e acima de tudo, quando a Globo anuncia o Esqueceram de mim.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Mundo, Vasto Mundo...

Se eu me chamasse Raimundo, minha mãe certamente me daria o apelido de Mundinho. Eita mundinho besta esse ! Acredita que alemães malucos criaram camisinha em Spray, com objetivo de servir os variados tamanhos. Pois é, eu também não acreditei logo de cara.

A novidade funciona da seguinte maneira: antes de “entrar em ação”, o homem precisa enfiar o dito cujo em uma lata; depois, aperta um botão que vai espirrar borracha por todos os lados e cobrir o órgão totalmente. “É como um lava-rápido”, diz Jan Vinzenz Krause, do Instituto de Pesquisa de Preservativos, na Alemanha. Todo o “processo” deve demorar cinco segundos.
A idéia de enfiar a piroca numa lata e sair com ela toda amarelinha (existem outras cores, e elas são extremamente berrantes) é, no mínimo, de fazer a parceira ao lado ter orgasmos de tanto rir.
- Espera um pouquinho meu anjo, vou colocar a camisinha... Shhhhhhhhhhiiiiiii
Mais engraçado ainda é o caso da mãe que chamou a polícia para prender seu filho de 12 anos. A acusação: o pequeno meliante, com sua astúcia delinquente e seu espírito criminoso teve a audácia de abrir seu presente de natal antes da hora. só mesmo nos EUA pra acontecer uma coisa destas.

Mais uma...

De antemão, já aviso que esta não será a tônica dos meus posts por aqui, mas não poderia deixar de colocar esta notícia que tem tudo a ver com o auto estorvo:

Flatulência pára viagem de avião

Nashville, EUA – Um vôo da companhia American Airlines foi forçado a fazer um pouso de emergência na última segunda-feira de manhã depois que uma passageira acendeu alguns fósforos para disfarçar o cheiro de uma flatulência, disseram autoridades.

O vôo direcionado a Dallas foi desviado para Nashville após vários passageiros terem sentido o cheiro de enxofre queimado dos fósforos, disse Lynne Lowrance, porta-voz da Autoridade Aeroportuária Internacional de Nashville.

Todos os 99 passageiros e cinco membros da tripulação foram retirados do avião e vistoriados, enquanto a aeronave foi vasculhada junto com a bagagem. O FBI interrogou uma passageira que admitiu ter acendido os fósforos na tentativa de esconder o “odor corporal”, disse Lowrance. A passageira disse ter uma condição médica especial, disseram autoridades.

“É hilariante de certa forma, mas eu sinto pena da pessoa também”, disse Lowrance. “É incomum alguém agir dessa forma para encobrir um cheiro ruim”. O vôo decolou de novo, mas a mulher não teve permissão de voltar a bordo. Ela não foi identificada nem sofreu acusações pelo ocorrido.

(saiu na Gazeta do Povo de quinta)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

O Grande Anônimo

A crônica de hoje será em homenagem a uma pessoa de grande versatilidade. Não se sabe, na verdade, se esta pessoa é ele ou ela. Este caráter de androginia se faz presente através da inconstância e diversidade de sua produção artística material. Também é difícil identificar o tempo em que ele(a) viveu. Algumas de suas obras, como El cantar Del Mio Cid, datam da literatura época medieval. Outras já foram produzidas no final do Século XX. Esta figura deve ser bem idosa. Algumas de suas obras são do tempo antigo. Foi ele quem arquitetou muitas pirâmides egípcias. Histórias infantis conhecidas, como João e Maria, Soldadinho de Chumbo e Dona Baratinha, também foram escritas por esta pessoa de respeitosa dinâmica artística. Além de muitas músicas populares famosas. Os melhores exemplos seriam as canções Atirei o Pau no Gato e Sabão Crá-Crá. Pergunto-me como tanto talento pode habitar apenas uma pessoa, que escreve em várias línguas e produz verdadeiros clássicos, presentes no folclore de muitos países. Sua obra abrange desde a literatura de cordel até clássicos de ópera italianos. O leitor deve estar curioso, querendo saber quem é este produtor e amante da arte. Eu digo, claro. Estou aqui para isso De quem poderia eu estar falando senão do grande Anônimo. Sim, este é o seu nome. Anônimo de Sconhecido. Sua biografia é controversa, devido às poucas fontes de pesquisa existentes. Mas algumas coisas podem ser relatadas aqui. Nada se sabe sobre o ano de seu nascimento e há suspeitas de que Anônimo ainda vive, tento hoje por volta de seis mil anos, anonimamente no Brasil, na cidade de Pindamonhangaba. Suas primeiras obras foram produzidas ainda na infância. Algumas pirâmides no Egito, esculturas e templos gregos e os templos do Vale dos Reis. Anônimo tinha duas irmãs. A mais velha se chamava Ciclana de Sconhecido Góes. Eles não se davam, brigavam muito por causa de uma escultura quebrada. Em outra oportunidade eu conto como tudo aconteceu. Ciclana foi assassinada ainda jovem, no auge dos seus trezentos anos. Anônimo foi acusado como principal suspeito. Porém, uma denúncia, feita no anonimato, revelou que Beltrano Góes, marido de Ciclana, foi o autor de tão sórdido crime. O motivo que levou Beltrano a executar sua esposa é até hoje desconhecido. A irmã mais nova de Anônimo era uma bela jovem, muito cobiçada nos arredores do vilarejo em que viviam. Era uma moça fornida de curvas e suas coxas, de carnes firmes, causavam um enorme rebuliço na ala masculina. Mas ela era lésbica. Não há certeza sobre seu nome, mas algumas escavações arqueológicas dizem, com muita plausibilidade, que a bela moça tinha por alcunha Maricota Fulana de Sconhecido. Pouco se sabe sobre Maricota. Existem alguns trabalhos acadêmicos que defendem a tese de que ela morreu triste, abalada por uma profunda depressão, fruto de seu amor por uma mulher madura, de quem nada se sabe. Anônimo teve uma infância feliz. Era criativo para sua idade. Pintava, cantava, dançava, escrevia, fazia esculturas, criava cidades imaginárias e fazia a planta destas no papel. Há indícios de que foi o primeiro a utilizar a planta do papiro e fazer o papel no Egito. Apesar de possuir tantas habilidades, uma delas fez com que fosse desprezado por aqueles que o rodeavam. Anônimo era um grande dedo-duro. Denunciava tudo àquilo que via de errado, e continua fazendo isso até hoje. As denúncias feitas no programa global Linha Direta são feitas, em sua maioria, anonimamente. Dotado de um grande senso de justiça, Anônimo não fica calado diante de uma iniqüidade. Faz ligações, anônimas obviamente, e sente uma espécie de prazer, quase que sexual, diante de um bom resultado de seu nobre feito. Como poucas são as fontes históricas, que nos ajudam num conhecimento mais amplo da vida deste artista ímpar, único, poucas são também as informações que tento tratar aqui, para homenagear este que é um artista nato e austero. Talvez, numa próxima crônica, faço alguma homenagem a outro personagem, que como anônimo, tem uma peculiaridade individual. Falo de Otávio, que é o indivíduo que mais bebe água nesse mundo. Não entendo o motivo, preciso de muita pesquisa. Porém é de se achar suspeito que, em toda garrafa de água mineral, esteja escrito: água "potável".

domingo, novembro 26, 2006

Quem é o louco!

Meu amigo Éder, louco de Carteirinha, mandou esse texto pra gente. Exemplo bom de Auto Estorvo.

- Quem é o louco?
- Ele!
- Por quê?
- Porque dorme na rua, enche a cara e não faz nada da vida...Dizem que usa drogas, vive pedindo dinheiro e não se endireita...
- E nós?
- Nós somos normais, ué!
- Por quê?
- Ora bolas! Porque trabalhamos, não bebemos e não excedemos os limites da normalidade... Enfim, somos pessoas comuns, sabemos o que fazemos...
-Tem certeza que nós sabemos o que fazemos?
- Deixa disso! Fica com essas perguntas sem fundamento! Acho que você é que está ficando louco...
- Sim, é isto! Já notaste que nós é que somos os loucos?
- Deixa de brincadeira!
- Algum dia em sua vida você se sentiu muito cansado do trabalho, da monotonia, da falta de grana, com vontade de fugir de tudo, matar seu patrão, deixar sua sogra falando sozinha ou simplesmente extrapolar algum limite?
- Sim, várias vezes me senti assim... Quando o stress estava pesado, eu esperava chegar o final de semana, e ia pescar...
- E por que voltou na segunda feira, por que não ficou pescando?
- Porque não sou louco, sei das minhas responsabilidades...
- Agora entendo!
- O que você entende?
- Ser normal é ser louco o suficiente para suportar tudo sem fugir...

sábado, novembro 25, 2006

Auto Estorvo

Este blog aspira à honestidade. Ao contrário dos inúmeros títulos existentes no mercado editorial que visam amenizar a dor, o fracasso, o desastre da vida humana. Através de animadores e esperançosos títulos do tipo “Se eu posso, Tu Podes”, “Vencendo a obsessão”, “O caminho da felicidade”, “Como ficar rico acumulando cera de ouvido”, muitas pessoas buscam suavizar suas frustrações, suas privações de desejos ou necessidades.
Este espaço não tem pretensões de mudar a vida de ninguém, embora tenha como certa a condição deprimente e monótona da raça humana. Minha única ambição é poder rir da nossa complexidade. Observar através de um foco abrangente, distanciado, que permita analisar situações por inteiro. Gargalhar sobre o leite derramado.
Imagine, por exemplo, duas pessoas fazendo sexo. Agora tome vergonha na cara, deixe a tara um pouco de lado, pare de olhar pra bunda da moça e fixe seus olhos nas expressões que o casal faz – olhinhos virados, boca semi-aberta, cabelos desgrenhados. Das caretas do prazer, só não ri quem não tem senso de humor.
A humanidade tem o ridículo por princípio, e é deste ridículo que pretendo me divertir. Rir da desgraça própria e da desgraça alheia. Aqui, buscar a solução de problemas pessoais em títulos que auto denominam-se divã de leitores é, no mínimo, motivo de muito sarro. Este tipo de literatura, chamada de auto-ajuda, ignora a necessidade das pessoas terem suas próprias experiências. Se lhe interessa aprender como enfrentar as circunstâncias difíceis que sua pífia existência coloca em seu caminho, não busque a superação em um livro. Apenas viva.
Não digo aqui que os livros não nos ajudam. Boa literatura é, antes de ser útil, prazerosa - transporta-nos para mundos distintos, experiências alheias. Faz-nos pessoas melhores, tolerantes. A boa literatura não busca esclarecer, mas gera outras dúvidas, outras formas de sanar a curiosidade.
Mesmo que sua proficuidade seja indiscutível, não devemos buscar nos livros a solução de problemas emocionais, familiares, financeiros, espirituais, carnais, conjugais, amorosos. A boa literatura abrange todas as diversas crises humanas, mas é transcendente a isso tudo. Ela não trará a pessoa amada em sete dias e muito menos recheará seu bolso de dinheiro – a menos que você seja um Paulo Coelho. Mas estamos aqui falando de boa literatura. Portanto, como disse no início, este espaço busca ser honesto com o leitor. Aqui você não encontrará solução, e sim o embaraço, a dificuldade, o obstáculo. Aqui você será motivo de piada, e poderá rir também da nossa cara. Um método de aprimoramento pessoal em que o indivíduo pretende buscar, sem ajuda de ninguém, empecilhos para todos os seus problemas. Sejam bem vindos ao Auto-Estorvo.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Flatus: realização pessoal

O primeiro post não poderia ser básico. Ainda mais sendo o auto-estorvo do jeito que é. Então, para inaugurar minha participação nesse blog, me inspiro numa crônica da Maria Falcão, cujo codinome é "Drica, a hipocondríaca". A crônica se chama "Gases que me habitam". Bom. Diferente dela, minha vida gasosa na retaguarda não e tão agitada assim. Aliás, nem posso dizer que tenho flatus, posto que quando eles saem, sequer se manifestam.

Posso incluir um peido bem sonoro e comprido na lista das cinco coisas que eu ainda quero realizar antes de partir dessa pra melhor (ou não). Por diversas vezes, senti um apertão, uma espécie de pressão e imediatamente meu coração se encheu de esperança e meus ouvidos de atenção para ver se, enfim, haveria uma manifestação sonora. Puffff... Uma brisa. Um bafo colon-retal. Ah, coitada! Acho que foi por isso que meu aparelho auditivo se irritou e resolveu fazer uma espécie de greve branca me deixando levemente surda.

E se eu fosse acreditar 100% em herança genética, poderia achar que sou adotada, já que nem um de meus progenitores tem esse tipo de frustração. Quem conhece sabe.

Mas ser assim, silenciosa, não é de todo ruim não. Vejam só: ônibus lotado, gente empurrando pra lá e pra cá, garotos de bigode novo e uniforme esbarrando nas costas dos passageiros com suas enormes mochilas abarrotadas de mangás; senhores sem noção com pastas na mão que são o terror das canelas desavisadas; tias ancudas que não conseguem nem se quiserem, não encostar "delicadamente" nas ancas vizinhas; cotovelos; vidros fechados. É nessa hora que entramos em ação. Eu e ele, lá embaixo. Em poucos segundos, todos os esbarradores ao meu redor se espremem desesperados pra outro lugar deixando livre o espaço ao meu redor. Tal prática me ensinou ainda a não ficar vermelha e nem com a mão amarela, o que me permite até me indignar com a situação "Nossa, que cheiro!", concordando com o coro ao lado. Pronto: totalmente despercebida e desesbarrada. É o conhecido flatus do tipo ninja.

Pena que só tenha esse motivo para me orgulhar. Nunca pude participar de concurso entre primos. Nem sei se puxei pro meu pai ou minha mãe. A única coisa possível de se fazer é coordenar o exato momento em que o pum sair com uma imitação do barulho feita com a boca. Claro, sem que ninguém perceba e descubra minha farsa.

Não há batatas, feijão ou ovos que me auxiliem. Eles apenas potencializam meu poder ninja. Além do mais, o meu forte mesmo é na parte de cima. Sonho estranho esse meu, né? O pior é que é sonho mesmo, porque nem dormindo eu consigo flatular para o deleite dos meus ouvidos grevistas.